Junior Lima

Durval de Lima Junior

¤ 11/04/1984 –  † 10/06/2010
Irmão profissional desempregado

Epitáfio: “Só se perde a liberdade por culpa da própria fraqueza”
(Mahatma Gandhi)

Os fãs de Sandy & Junior ficaram perplexos quando, em 2007, a dupla anunciou seu divórcio artístico e não entenderam que essa separação não se deu por motivo outro além daquele de sempre: dinheiro!

Tentou-se até vender a idéia de que o fim da dupla ocorrera por motivos místicos, espirituais e toda aquela baboseira de ‘seguir um caminho’. Nas cabecinhas daqueles que imaginam o Sol girando ao redor da Terra a historinha faz enorme sentido. Mas só nelas.

Qualquer um em sã consciência reconhece que o projeto Sandy & Junior era formado, em ordem de importância, por Sandy Leah, sua própria sombra e seu irmão, Junior, um acessório incompatível com o projeto de se transformar a primogênita na Celine Dion do pós-11 de Setembro.

Como nada por aqui se cria, os irmãos, no início desta década, estavam estudando a cartilha da banda sueca Roxette, que conseguiu invadir o mercado fonográfico americano em fins dos anos 80.

Esta agourada fase ‘Internacional’ de S&J deixa evidente que os seus arquitetos almejavam dar uma boa mordida naquele mercado tradicionalmente aberto a ‘chicanos’ desde que concorram apenas ao infame Grammy Latino, o prêmio de consolação que entre suas categorias já coroou a empáfia de Ivete Sangalo e indicou bocoiós do calibre de Marjorie Estiano e NXZero.

Convido o leitor a assitir os vídeos de Fading like a flower (Roxette) e Love never fails (S&J) tentando perceber as semelhanças. Justiça se faça, são trabalhos acima da média considerando o público ao qual dirigem-se.

O tiro de misericórdia na carreira de qualquer artista era, então, gravar um álbum “Acústico MTV” e com a dupla a maldição se repetiu. Neste último momento de agonia fraterna ainda ensaiaram um movimento em direção a um modelo mais próximo daquele formatado pelos irmãos Carpenters nos anos 70.

Em alguns aspectos essa tentativa de mudar os rumos foi premonitória. Assim como a carreira de Richard Carpenter não sobrevivera ao falecimento precoce da irmã – Karen – Junior Lima também sucumbiria, artisticamente, ao fim da dupla que integrava.

O maior erro dos estrategistas da empreitada campineira nas terras do Tio Sam foi superestimar a capacidade de evolução dos fãs, que simplesmente não conseguiam conceber uma existência além desse universo infantil de onde seus astros tramavam um desesperado plano de fuga.

Os números já indicavam a catástrofe iminente conforme se observa neste gráfico (em alta definição para que até os fãs enxerguem e resolução normal para os demais). Salta aos olhos a forte ascensão das vendas na primeira década de carreira e a vertiginosa descida a partir da virada do milênio que anunciava um panorama obscuro para o futuro da dupla.

A descida do estratosférico patamar ‘multiplatinum’ dos quase 3 milhões de cópias do álbum ‘As Quatro Estações’ (1999) até o fundo de poço representado pelas 168 mil cópias do último trabalho inédito da dupla, o ‘Sandy & Junior’ de 2006, não se justifica exclusivamente pela redução do mercado apontada pelos dados da ABPD.

Em 2007, um produto semelhante, a outrora falecida Wanessa Camargo, alcançou 1/3 de suas vendas de 2002, acompanhando a tendência do mercado, ao passo que o projeto S&J, no mesmo ano de 2007, mal conseguiu vender 1/8 do que vendia no começo do milênio. Que empresa não ligada ao tráfico de drogas, ao jogo ilegal ou a prestação de serviços de telefonia resistiria a um declínio de vendas tão acentuado? A verdade é que o produto não mais atendia as demandas de seu público ainda infantilizado.

Desde a cisão, os passos de Junior se deram no inferno de um quase comovente desfile de projetos naufragados ainda no estaleiro. Os longos anos de uma vida exposta ao crivo da opinião pública lhe renderam amizades com personagens cheios de ideias geniais e intenções obscuras, como aquela de sofrer o desgaste de tentar (mais uma vez) a carreira de ator no auto-sabotado longa-metragem AcQuária, de 2003.

Cercado de amigos envernizados pelo mesmo limo que besunta a cara-de-pau de Luciano Huck, caiu na armadilha de integrar o SoulFunk, uma banda de black music pronta-para-fracassar, cuja tresloucada proposta era misturar Lenny Kravitz, Jorge Bem Jor, Stevie Wonder, entre outros, ao swing bunda branca dos novos espaços frequentados pelos emergentes paulistanos.

Mas as profundezas abissais da humilhação ainda tinham um lugar reservado ao jovem Durval. Em 2008, conseguiu montar, sob o infeliz acrônimo de 9MA (que deveria significar Nove Mil Anjos), uma banda inteira com os restos mortais descartados por outras, a saber: Peu Sousa, garoto de recados de Pitty, na guitarra; Champignon, o baixista demitido da banda Charlie Brown Jr.; Péricles Carpigiani, devolvido por alguma nave alienígena e; o próprio Junior Lima, desempregado, na bateria.

Pela sagrada e bendita ordem natural das coisas, o predestinado projeto seguiu seu obrigatório caminho rumo ao retumbante fracasso comercial de meras 20 mil cópias vendidas. Para se ter uma idéia do tamanho do desastre, o álbum Manuscrito, lançado por Sandiléa em 2010, vendeu 50 mil cópias em dez dias (não que isso signifique alguma coisa).

Em setembro de 2009, o projeto 9MA (Nove Modos de Afundar) – exatos 12 meses após o lançamento do primeiro single, ‘Chuva Agora’ – anunciava de forma redundante o seu fim oficial em meio a uma profusão de farpas publicamente trocadas entre os integrantes sobre  (vejam só) ataques de estrelismo.

Em nome dos bons tempos do seriado global Sandy & Junior (aliás, outro mico impagável para todos os envolvidos), Marcos Mion ainda tentou acudir o “amigão” convidando-o para compor a trilha sonora do nefando e superestimado Legendários.

Mas como toda falsa retribuição de favores, o convite chegou tarde demais. A carreira de Junior já agonizava em seus estertores.

Resta-nos a mágica metáfora ao NADA que as páginas em branco dos sites fora do ar pertencentes aos projetos do caçula de Xororó e o lacônico currículo do rapaz no IMDB representa.

Do pó, veio. Ao pó retorna.

Material Relacionado:
Peu Sousa, ex-guitarrista de Pitty, é encontrado morto em casa, na BA


101 Respostas para “Junior Lima

  1. Aproveitando um gancho na sua citação de que “nada se cria e tudo se copia”, o cara aí em cima tentou imitar o exemplo de Franz Ferdinand, que mandou um mix de Gloria Gaynor e Beatles e deu em “Take me out”.
    Freak out!!!

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  2. Vou tentar não ser apenas mais um defendendo, mas vamos lá:
    Como vc disse, nem “todo mundo se move por dinheiro”.
    Digamos que você seja adolescente, criança. Não tem ainda discernimento e faz tudo o que dizem que é legal. Conforme vai crescendo, vai se dando conta que não é mais a sua. Também com o passar do tempo vai mudando (evoluindo) seu gosto musical. Olha pro lado e percebe que a pessoa ao seu lado, por mais que seja seu irmão/irmã não tem o mesmo gosto. Vocês têm uma dupla, mas não querem terminar assim, de repente. Então vão trabalhando para que seja tudo feito com calma, sem ser nada abrupto. Quando chega a hora se separam. A mulher, que se destaca por cantar muito bem, pode seguir carreira solo, ciente de que se escolher um caminho menos comercial venderá menos, mas não importa, já tem grana pra viver pro resto da vida bem de boa. O cara, sabe que não canta nada, mas toca muito, e vai arriscando fazer coisas, sem nenhuma cobrança, afinal tá com a vida ganha. Por fim se sente realizado tocando com mais dois caras em baladas…Não tem mais fã chatinho, não tem mais mídia incomodando, cobrando, enchendo o saco ( deve ser um alívio). Então, acho que ambos estão bem cara.”Nem todo mundo se move pelo dinheiro”, ou fama…

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  3. Verdade. O Junior sem a Sandy não é ninguém. E vc Felicia, aprenda essa : quem fala o que quer, escuta o que não quer.
    Parabéns mais uma vez Coveirinho !!!

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  4. Nooossa!! Fiquei impressionada, vc deve ter acompanhado muito a carreira dos dois, o Júnior emtão deve ser muito importante na sua vida…..comentou só o lado negativo….ridículo……absurdamente ridículo…
    Sandy e Júnior – Parabéns por tudo!!

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