Ana Hickmann

Ana Lúcia Hickmann Corrêa

¤ 01/03/1981 –  † 19/07/2010
Branca, rica, limpa e linda

Epitáfio: “Só há no mundo uma coisa pior do que ser
objeto de falatórios: é não o ser” (Oscar Wilde)

É a clássica história batida e rebatida nos filmes de Hollywood: a garota do interior se muda, sem lenço nem documento, para a cidade grande sonhando tornar-se famosa de alguma forma e come o pão que o diabo amassa em sua escalada rumo ao sucesso.

No caso de Ana, a bravata ainda é temperada pelo discurso blasé de que o sucesso veio naturalmente, num golpe de sorte que a poupou dos dissabores que os preconceitos à carreira que lhe celebrizou tendem a impor, sobretudo em seu início.

Diferentemente de outras galopeiras e escaladoras da fama, não precisou encarnar a maria-chuteira, casar com dono de emissora ou ter um filho com uma estrela do rock ou do forró. Preferiu seguir o próprio manual de sobrevivência na selva.

É justo (e prudente) dizer que em meio a um contexto no qual a prática da cafetinagem está irremediavelmente disseminada, sobretudo na programação televisiva deste Apocalipse em tempo real ao qual tentamos sobreviver, a loura paira – de fato – acima do pântano de baixarias e desavenças de boca-do-lixo com toda aquela sua inconfundível ‘dignidade européia’. Ana Hickmann deu certo!

No entanto, esta sua atitude de calculada superioridade é um tiro que sai pela culatra já que, ao invés de transmitir a ideia de que a boneca de louça não se rende a melindres e deslumbramentos do sucesso, estabelece uma traiçoeira diferença entre si e o restante da humanidade.

Além disso, atribui-lhe um status evidentemente artificial de figura imaculada e uma pretensa aura divinal que já se mostra problemática nessa guinada rumo a obrigatória ‘humanização’ para que seu projeto de se tornar a ‘Oprah Winfrey brasileira’ venha a ser algo mais que um grande disparate, aliás engendrado pelo capataz de sua carreira, o marido-empresário Alexandre Corrêa.

Não é que Ana precisasse fuçar no chiqueiro onde tantas outras se esbaldam mas para se tornar uma unha – que seja – de Oprah não é exagero afirmar que teria de nascer de novo, pois, aprisionada na perfeição de um universo frio e particular que não admite algum frescor e descontração, já fracassa na tarefa de ao menos substituir a contento sua antecessora no lamentável ‘Tudo é Possível’, Eliana Dedinhos (ex-Roberto Justus), um produto que mesmo revestido de falibilidades parece bem mais ‘palatável’.

‘Ríquima’, como é popularmente pesquisada no Google, desperdiça uma quantidade enorme de energia (e recursos) nesta sua luta desesperada contra os estereótipos que lhe reservam a vala comum. Faz sempre muita questão de nos vender o peixe de uma ascensão derivada de méritos relacionados à sua desenvoltura enquanto entertainer por justamente saber que o quê lhe sobra em beleza, lhe falta em carisma.

O problema é que quanto mais tenta nos impor este conceito, mais evidente se torna a sua poderosa convicção – aliás, característica dos egocêntricos – de que para si, nenhuma dádiva é suficientemente grande. É preciso tocar as estrelas!

Sua humildade pré-fabricada, sintoma colateral de uma ambição exacerbada, a torna escrava deste intangível ‘sonho de Ícaro’ responsável pelo rastro de desavenças e intrigas que, aliás, já a afastou do jornal de variedades ‘Hoje em Dia’ (Rede Record).

Infelizmente, para a dona das pernas que já foram as mais longas do mundo, seus superlativos, inatos ou adquiridos, não bastam para lhe garantir um lugar nas alturas onde repousam os mártires e trafegam os predestinados. No máximo, esta lápide, neste cemitério onde jazem tantos outros excomungados e esquecidos.

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Todo o lado obscuro de Ana Hickmann