Susana Vieira

Sônia Maria Vieira Gonçalves

¤ 23/08/1942 – † 08/12/2010
1,61 m de ego superdimensionado

Epitáfio: “Diga-me com quem andas e eu te direi quem és”
(Adágio popular)

Se ao custo de todos os tratamentos estéticos que o dinheiro pode pagar Susana Vieira conseguiu livrar a carcaça dos efeitos mais agressivos do tempo, este, por sua vez, em toda sua implacável sabedoria cobrou um alto preço ao privá-la da mais alentadora faculdade que afinal se desejaria encontrar em um ancião: o senso de ridículo.

E um triste indício do acerto desta afirmação é a própria atitude “síndica de cortiço aposentada” que o discutível hábito de arrematar garotões em feiras de refugo humano lhe faz parecer geneticamente preparada para ostentar.

Reconhecida como figura mambembe nos dois lados do Atlântico, esta filha de ex-funcionários do governo esmera-se em confundir os deslumbrados e desavisados entregando-se ao recurso da irreverência vazia que mal consegue ocultar uma filáucia que, por sua vez, encontra poucos rivais à altura entre seus colegas ainda vivos.

Não se pode ignorar sua extensa folha corrida de quase 50 anos (de carreira, fique claro) prestando serviço tido como excelente segundo o padrão da máquina de moldar mentecaptos que emite seus contracheques, mas quem testemunha os delirantes solilóquios da atriz a respeito dos próprios predicados revoluciona seus conceitos sobre a arte de contar bravatas.

“Aquele” grau de competência com que desempenhou papéis importantes em inúmeras novelas foi tal que a certa altura de sua carreira gozou a glória de ser, temporadas a fio, a orgulhosa garota-propaganda de uma marca de fixador de dentaduras e outra de papel higiênico.

Mas ninguém à época poderia prever que os respingos que se viam na relva rasteira eram o discreto sinal da profusão de merdas que estava por vir quando, lançando mão de sua influência junto a diretores e autores, conquistou o direito – mesmo que a título precário – de jamais encarnar uma velha decrépita na tela da tevê, pois estaria determinada a desempenhar este papel na vida real em toda a sua dimensão.

E realmente deu um passo importante rumo a esta meta de fundir realidade e ficção quando em setembro de 2006 contraiu matrimônio com Marcelo Silva, policial que ainda nos pijamas da lua-de-mel espancou outra mulher e destruiu a suíte de um motel onde supostamente estariam consumindo drogas. No mínimo.

Por este senhor ter reagido à voz de prisão no dantesco episódio, pôde a Polícia Militar do Rio de Janeiro finalmente assimilar a desonra de ter seu traje de gala enfeitando o mencionado fanfarrão nas dispensáveis páginas da Revista Caras expulsando-o de seu quadro funcional e zelando pelo bom nome da valorosa corporação.

Constrangimento semelhante envolvendo uma força pública já havia ocorrido anos antes no caso do bombeiro José Albucacys, que fora então punido por usar a mangueira com a qual servia a comunidade para aplacar o fogo que consumia as entranhas de Luma de Oliveira e, no rescaldo do combate, inspirar toda uma nova geração de empresários ao transformar Eike Batista no mais rico cornudo a ter vivido sob a luz de um sol amarelo.

Mas apesar dos qüiproquós, Susana seguia empolgada com o resgate do ostracismo que a exposição proposital de sua conturbada vida privada lhe propiciava. Eram tantos e tão ricos os detalhes que os programas da tarde, com seus abutres de plantão, chegaram ao requinte de debater até o valor do aluguel do flat onde a mãe de Marcelo estava convenientemente instalada à custa da nora.

Infelizmente esta época de ouro para os sites de fofoca entrou em declínio quando, em 2008, Marcelo deu sua derradeira cafungada nos braços de Fernanda Cunha, sucumbindo por fim à urucubaca de Ana Maria Braga rogada no apagar das luzes do casamento do ex-policial com a atriz que, por sua vez, o acusaria de todo tipo de falcatrua assumindo – em contrapartida – a própria pamonhice.

Ironicamente, especula-se que a tal Fernanda seria a senhorita espancada no motel e pivô da separação do polêmico casal que mal chegaria a conviver um ano sob o mesmo teto.

Não muito mais tarde, ainda em meio ao mal-estar provocado pela publicação de fotos que consolidaram para sempre a hegemonia do Photoshop sobre a razão, teve forças para tentar se redimir no lampejo final de lucidez que foi humilhar a aturdida e insossa Geovanna Tominaga numa entrada ao vivo do escatológico Video Show.

Na plena vigência de seu envolvimento com o jovem mágico Sandro Pedroso, não haveria de permitir que o ano de 2010 passasse em brancas nuvens aproveitando, então, a encenação da Paixão de Cristo – o tradicional espetáculo que ocorre anualmente em Nova Jerusalém (PE) – para destilar conceitos levianos de seu estrelismo incompatível com esses novos tempos em que até uma Geisy Arruda da vida pode se render ao descaramento de anunciar-se como celebridade.

Pelo exposto, infere-se que Susana Vieira faz a passagem sem absorver as lições que a vida lhe impusera e por sua alma deveremos orar para que todos os seus assuntos por ventura pendentes sejam tratados apenas na circunscrição deste cemitério.

Os vivos agradecem.


116 Respostas para “Susana Vieira

  1. Mira, Suzana Vieira foi uma grande atriz. Não se pode negar que as novelas dela sempre foram ótimas, mas atacá-la assim é um acinte aos Direitos Humanos.

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Atire uma pá de cal (comente!)